FOI-SE LATOUR, UM CHEF DE CUISINE EUROPEU DE VERDADES DIFÍCEIS E ÚTEIS TAMBÉM AOS BRASIS


É como se Bruno Latour houvesse nascido em uma nova cozinha onde só houvesse novos ingredientes e
condições para preparar os pratos a serem servidos a exigentes comensais pensadores das ciências e das
tecnologias. Tendo ele sempre estado nesta nova cozinha, de cuja construção participou como um dos
principais arquitetos, e dotado de excepcional capacidade comunicativa, Latour quase não teve opção a
não ser militar ativamente a favor da nova culinária.
Os Science Studies são a nova cozinha. De fato, ela não chega a ter propriamente uma arquitetura, mas
seus primeiros ingredientes, temperos e equipamentos foram definidos nos “estudos de laboratório” dos
anos 1970-1980. A partir daí, Chef Latour elaborou um novo e diverso cardápio de políticas de
conhecimentos tecnocientíficos, ecológicos, verdes, orgânicos, caipiras, ancestrais: “o artigo científico”,
“hierarquias, autoridades e escalas na tecnociência”, “Natureza-Sociedade – uma ‘trama inconsútil’”, “o
chamado ‘modelo de difusão’”, “onde aterrar?” e muitos outros que, uma vez (re)“situados” no Brasil,
trazem à mesa alternativas à fast food envenenadora da intelectualidade conformada à colonialidade
brasileira.
Se, como dizem por aqui, a cozinha é o centro da casa, Latour soube como poucos nos levar novamente
ao centro, às tecnologias e aos saberes dos experts ocultos nas bancadas. Seu interesse pelos ingredientes
e temperos, suas agências e sua capacidade de “fazer fazer”.
Ao longo de décadas de associações livres Latour ajudou a recompor o cenário CTS no Brasil levando-
nos a dialogar com etnólogos, ecólogos, biólogos, filósofos, designers, economistas, lideranças indígenas
e quem mais reivindicasse coabitar a Terra. Reconhecimento e partilha que o acompanharam desde sua
crítica ao estatuto dos modernos ao propor um terceiro princípio de simetria, aquele que não apartasse os
próprios modernos das perspectivas dos não-modernos.
Latour foi profícuo em descrever modos de existência, e ao fazer isso forjou ferramentas teóricas tão
potentes capazes de agir como inscritores de tantos mundos possíveis quanto fôssemos capazes de viver.
O caminho nunca foi evidente, mas como “formigas”, sigamos seu rastro.

Ivan da Costa Marques
Guilherme Sá
São Paulo/Brasília, 9 de outubro de 2022

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